No cinema, a fé nem sempre move montanhas. Há casos em que ela só traz desgraças, ainda mais em filmes com tom crítico, sobre fanatismo e intolerância. Por outro lado, a fé pode levar diferentes personagens, em diferentes séculos, a estranhas descobertas, à constatação de que o mundo é maior – e mais material – do que parece.
Sem dúvida, mundo estranho, a abarcar diferentes posições religiosas, toneladas de incompreensão e, felizmente, a arte como resposta, como reflexão sobre esses diferentes olhares – aos quais a lista abaixo, com filmes variados, pretende apontar.
Narciso Negro, de Michael Powell e Emeric Pressburger
Em ambiente afastado, à beira do abismo, freiras confrontam outra cultura e seus próprios desejos nessa obra-prima feita com a mágica fotografia de Jack Cardiff.
Domínio de Bárbaros, de John Ford
A personagem de Henry Fonda é o padre perseguido por um totalitário governo mexicano, enquanto Ford extrai grandes sequências e os sinais da absolvição do herói.
O Diário de Pároco da Aldeia, de Robert Bresson
Quanto mais próximo das pessoas, mais o padre ao centro do filme de Bresson levanta questões sobre a existência e até mesmo sobre sua própria vocação.
A Palavra, de Carl Theodor Dreyer
Um dos membros de uma família do campo acredita ser Cristo e, para o susto de seus irmãos e pai, diz palavras fortes e talvez veja o inimaginável na obra de Dreyer.
A Harpa da Birmânia, de Kon Ichikawa
Após não convencer um grupo de soldados sobre a derrota do Japão na Segunda Guerra, harpista do exército vê a morte e converte-se em monge nesse belo drama.
Léon Morin, o Padre, de Jean-Pierre Melville
Em tempos de guerra, o padre de Belmondo atrai o olhar das mulheres. Uma delas, ateia, não encontra respostas na Igreja e passa a se encontrar com esse padre.
Luz de Inverno, de Ingmar Bergman
Os tempos de incerteza, de bombas nucleares, não deixam respostas: o pastor de uma igreja entra em crise de fé ao não conseguir reconfortar um fiel de seu rebanho.
O Evangelho Segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini
O melhor filme já feito sobre Cristo. Pasolini, ateu e homossexual, dizia não ser religioso e que a tônica de sua obra estava mais na poesia do que na busca da realidade.
Simão do Deserto, de Luis Buñuel
Outra crítica do diretor espanhol – autor do “Sou ateu, graças a Deus” – à Igreja, ao abordar a história de um eremita tentado pelo Diabo e suas formas inesperadas.
Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski
É sobre o famoso pintor do século 15 e suas andanças pelo mundo, suas dúvidas sobre a religiosidade e seus encontros com situações impensadas. Grande obra de Tarkovski.
A Grande Testemunha, de Robert Bresson
Todo filme de Bresson toca a religiosidade. Nesse caso, acompanha-se o burrinho, animal inocente que cruza a vida de diferentes pessoas, do nascimento à morte.
O Homem que Não Vendeu Sua Alma, de Fred Zinnemann
Inglaterra, século 16. Sem abandonar seus princípios religiosos, o pensador Thomas More não aceita o novo casamento do rei Henrique 8º, o que o leva à prisão.
Irmão Sol, Irmã Lua, de Franco Zeffirelli
A história de São Francisco de Assis, que passa da vida rica à condição de pobreza, depois ao encontro com o papa. Um dos filmes mais famosos de Zeffirelli.
Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat
O vencedor da Palma de Ouro de Pialat inclui o caminhar de um padre que, no desfecho, chega a tentar o milagre para salvar a vida de uma criança.
Ondas do Destino, de Lars Von Trier
A busca por satisfazer os desejos do marido inválido transforma uma mulher ingênua e religiosa em vítima dos ortodoxos de sua igreja nesse belo filme de Von Trier.
Maria, de Abel Ferrara
Um homem que trabalha em um canal de televisão não consegue se comunicar com Deus; em paralelo, uma atriz interpreta Maria, mãe de Cristo, e se transforma.
A Fita Branca, de Michael Haneke
À beira da Primeira Guerra Mundial, pequena comunidade religiosa passa a sofrer com estranhos casos de violência enquanto alguns se questionam sobre a origem do mal.
Homens e Deuses, de Xavier Beauvois
Caso real passado na Argélia, sobre o massacre de monges franceses que tentaram resistir à presença de grupos armados que ameaçavam atacar a região.
Além das Montanhas, de Cristian Mungiu
Amigas reencontram-se na Romênia, onde uma delas vive a clausura de um monastério. Tudo muda quando o padre local acredita que uma das moças está possuída.
14 Estações de Maria, de Dietrich Brüggemann
Em 14 episódios, a via-crúcis de uma garota: os ensinamentos do padre, a intolerância da mãe, a culpa por desejar um garoto e a “crucificação” para salvar o outro.