
José Roberto Torero faz 48 anos hoje. Natural de Santos, é jornalista, roteirista de teatro, TV e publicidade – e louco por futebol. Ganhou o Prêmio Jabuti em 1995 com O Chalaça e tem mais de 20 livros publicados, dos quais muitos usam o esporte como tema.
A carreira de curtas-metragens de Torero é baseada em filmes de temática densa. Sérios – com naturalidade e delicadeza. Tal cuidado é perceptível quando o espectador é atento a cada palavra, sorriso, enquadramento, suspiro. Até o silêncio coopera com a narrativa talentosa do diretor roteirista.
Seu primeiro curta foi A Inútil Morte de Sr. Lira (1989, 11 min., cor), sobre um homem que tem tudo e morre… por nada. Outro curta, Nunc et Semper (1993), colecionou prêmios: Clermont-Ferrand, Festival de Brasília, Rimini na Itália e Festival Universitário Brasileiro.
Em 1994, Torero dirige e escreve o longa Amor!. O filme simula um documentário na linguagem e na estética e conta a história de Apolo e Diana intercalando depoimentos. Na cena de abertura, o espectador vê um homem lendo a definição da palavra “amor” em um dicionário. Com um final ímpar, o filme mostra estar à margem do romântico. É verdadeiramente uma sátira ao conceito de amor.
Torero encontra a base de seus filmes desconstruindo o que é tido como perfeito pela sociedade de um modo geral. Seus roteiros chegam a ser um exercício do tom cético capaz de banalizar problemas ligados ao sentimento. Esse elemento surpresa do naturalismo elevado à última potência é marca de Torero que pretende e decompõe tudo que era esperado. Resta ao público viajar na avassaladora e até pessimista – mas sempre – realidade apresentada.
O curta O Bolo (1995), é um bom exemplo disso. Como parte do média-metragem Felicidade (1995) o episódio escrito e dirigido por Torero é composto por planos e detalhes que vão dando o tom, enquanto um casal de idosos conversa em tom hostil. Pelo posicionamento incomum da câmera e entre farpas, o espectador é forçado a partilhar da intimidade do casal. Com uma interpretação naturalista, os maravilhosos Jofre Soares e Vanda Lacerda discutem ranzinzas, amargurados, enquanto preparam um bolo para a Boda de Ouro de seu casamento.
A Alma do Negócio (1996), satiriza as campanhas publicitárias. No ápice da alma, os consumidores se agridem fisicamente com os produtos apresentados. Tão interessante quanto o filme, é perceber a sensibilidade crítica de Torero. O diretor captou a estrutura dos filmes publicitários e o recriou em todas as instâncias cinematográficas: roteiro, iluminação, enquadramento e comportamento das personagens. Simplesmente genial.
É de Torero o curta considerado um dos bonitos do Cinema Brasileiro. Em Morte (Memento Mori, 2002), Paulo José e Laura Cardoso interpretam um casal que escolhe jazigos, caixões, igreja, velório, música… Na intenção de preparar a morte, até as flores são definidas pelo casal. O tema do filme é forte. Mas ao contrário de pesado ou triste, o assunto é tratado de forma delicada, irônica e bem humorada até – o tanto quanto é possível. A ideia de Torero, iluminada pela interpretação de dois dos maiores atores brasileiros, dá uma demonstração de talento genuíno e consegue dar à morte uma inesperada ótica – poética e sensível.
José Roberto Torero é o cara. Das histórias de gente. E dos curtas e longas inteligentes e bem executados.