Por Dario PR – correspondente do PORTAL DO CURTA – RJ
Cena de Corações Sujos
Corações Sujos, drama de Vicente Amorim, com Eduardo Moscovis, baseado no livro homônimo de Fernando Morais e com roteiro de David França Mendes, é um título que salta aos olhos na programação de hoje.
Em 1945, o tratado de rendição assinado pelo imperador japonês Hirohito ao general americano Douglas MacArthur marcou o fim da Segunda Guerra Mundial. Certo? – Errado. Para grande parte dos imigrantes japoneses que viviam no interior de São Paulo, o Japão havia vencido a guerra. Eles eram a maior colônia japonesa fora do Japão. Os que acreditavam na derrota eram chamados de traidores da pátria, apelidados de “corações sujos”, e perseguidos por aqueles que endeusavam o imperador e criam – como uma crença mágica – na vitória do Japão. É neste contexto que vive Takahashi (Tsuyoshi Ihara), dono de uma pequena loja de fotografia e casado com Miyuki (Takako Tokiwa), uma professora primária. Incitado pelo coronel Watanabe (Eiji Okuda), ele se torna um dos vingadores que pregam a supremacia japonesa e começa a assassinar os que acreditam que o país foi derrotado. Esse drama é contado pela esposa Miyuki, que vive a dorolosa destruição de seu casamento, enquanto assiste perplexa a seu marido, um pacato imigrante, transformar-se num assassino.
Corações Sujos ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro no Festival Himi Kizuna, no Japão. Direção, produção e elenco estão em estado de graça. Homenageio a toda a equipe citando aqui apenas a atriz nipônica Celine Fukumoto, de 12 anos, que se destaca no papel da pequena Akemi. Nascida em Tóquio, filha de pais brasileiros e avós japoneses, foi trazida pra São Paulo ainda bebê. Encontrou no filme sua primeira oportunidade para interpretar. Não teve dúvida. Afiou o japonês para dar conta das filmagens, e brilhou em cena.
É surpreendente ver um filme de produção nacional captando e entendendo a alma de um Nihon-jin com tamanha perfeição. Chama a atenção a riqueza dos detalhes que retratam a cultura nipônica e a precisão com que a época é reconstituída. O filme é belo, comovente, e torna-se difícil segurar a emoção. Nos faz pensar sobre como crenças e preconceitos podem nos transformar em algozes de nós mesmo. IMPERDÍVEL.
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