O primeiro filme de ficção russo, Stenka Razine de Drankov, data de 1908. Em 1913, a Rússia já tinha 1400 salas e produzia centenas de filmes. A partir de 1914, o poder czarista põe-se a produzir filmes de propaganda. Protazanov, Gardine e Mosjoukine começam uma grande carreira durante o conflito.
A Revolução de 1917 desorganiza o sector. Vários cineastas emigram (Ermolieff, Mosjoukine, Protazanov – que voltará). Em 1919, o cinema é nacionalizado e é criada a primeira escola de cinema do mundo (o VGIK). O cinema torna-se no principal vector de comunicação, educação e propaganda. Em 1922, Lenine liberta e restabelece um sector privado que dá origem às obras de Barnet, Protazanov ou Poudovkine; o cinema de Estado produz A Greve de Eisenstein. De O Couraçado Potemkine de Eisenstein a Bad and Sofa de Abram Room, os filmes vanguardistas e os documentários (Vertov) misturam-se com filmes mais tradicionais, históricos, sobre a vida diária. As grandes teorias sobre a montagem datam dessa altura.
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A Greve de Eisenstein | Bad and Sofa de Abram Room |
O Couraçado Potemkine de Sergueï Eisenstein
A partir de finais dos anos 20, o controlo ideológico de Estaline chega ao cinema, sendo o vanguardista (Koulechov, Vertov, Eisenstein) considerado “elitista”. Em 1932-1934, o dogma do realismo socialista impõe-se, embora o modelo de Hollywood seja admirado. As comédias musicais (Alexandrov, Pyriev), os filmes “psicológicos” (Donskoï), os filmes do quotidiano (Trauberg e Kozintsev) e os filmes épicos marcam os anos 30 que, após as “grandes purgas” estalinistas, colocam na moda figuras históricas que exaltam o patriotismo (Pedro o Grande de Petrov, Alexandre Nevski de Eisenstein, Souvorov de Poudovkine) perante a ascensão dos fascismos. No entanto, a guerra volta a dar vida aos documentários (Donskoï, Vertov, Dovjenko); o pós-guerra vira-se para o culto de Estaline (A Queda de Berlim de Tchiaoureli), diminuindo o número de filmes.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=c1oU_-KMLDM
Alexandre Nevski de Eisenstein
A partir do Degelo (1955-1956), a produção retoma, as imposições são menos rigorosas, o indivíduo volta a estar no centro das preocupações. Voltados da guerra, Tchoukhraï (A Balada do Soldado), Bondartchouk (O Destino de um Homem) e Ozerov (Libertação) transmitem as provações vividas, mas foi Kalatozov quem recebeu a única Palma de Ouro em Cannes para Quando Voam as Cegonhas em 1958. Contudo, apesar das arrelias ideológicas (as sanções vão da convocação ao Kremlin (Khoutsiev para O Bastião de Ilitch) à proibição de exercer (Askoldov para A Comissária), passando por novas montagens, cortes, mudanças nos diálogos, saídas diferidas, proibições de festivais, eliminações no genérico, etc.), Tarkovski, Konchalovski, Paradjanov, Guerman, Mouratova, Chepitko, Okeev, Mikhalkov, Klimov, Panfilov, Iosseliani, Khamraev e Norstein inserem os seus nomes no panteão dos anos 60 e 70 (alguns filmes só foram descobertos depois da Perestroika). Nos inícios dos anos 70, há uma grande diferença entre a imagem dos Soviéticos quanto ao seu cinema (popular) e a imagem forjada pelos Ocidentais (cinema de autor exigente): nos festivais estrangeiros, é dada importância aos que têm diferendos com a censura, dada a degradação da imagem da URSS; o cinema russo contemporâneo continua a sofrer com esta dualidade.
A Balada do Soldado de Tchoukhraï
A Perestroika faz com que tudo se desmoronasse. Em 1986, a União dos cineastas afasta a antiga guarda e dá lugar aos reformadores. Pitchoul (A Pequena Vera), Podnieks (É fácil ser jovem?), Abouladzé (O Arrependimento), Sokourov (A Voz Solitária do Homem) e Chakhnazarov (Cidade Zero) mostram imagens antigamente proibidas e abordam temas tabu (droga, sexo, Goulag, pobreza,
estalinismo, vulgaridade da linguagem…), conferindo uma nova imagem ao cinema russo. Em 1990-1991 (dissolução da URSS), Lounguine(Taxi Blues), Kanevski (Não te mexas, morre e ressuscita)e Bobrova (Hey! You Geese) reflectem o desmoronamento da sociedade. Os anos 90 continuam a abrir caminho e fazem-se vários “filmes sobre branqueamento de capitais”; contudo, a desorganização do sistema impede que se aceda às salas. Co-produzidos (maioritariamente pela França), ainda assim os cineastas conseguem filmar: Mikhalkov (Sol Enganador), Guerman (Khroustaliov, o meu carro!),Dykhovitchny (Moscow Parade), Todorovski (Katia Ismaïlova), Sokourov (A Arca Russa)…
Assinatura de Nikita Mikhalkov
A reposição data de 2004 e da saída do primeiro blockbuster, Night Watch (Bekmambetov), publicitado na televisão. Desde então, comédias e filmes de acção geram uma quota de mercado nacional de 15% a 25%, continuando os filmes de autor a acumular-se nos festivais, nomeadamente após o Leão de Ouro de Zviaguintsev para O Regresso (Veneza, 2003).
para saber mais http://www.festival-cannes.fr/pt/article/57958.html