Adaptação literária em curtas-metragens

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Cena de “Famigerado” (1991), curta de Aluízio Salles Jr.

“Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.[…]” (“A Metamorfose”, Franz Kafka)

Quando lemos este trecho acima, vamos imaginando a cena, formando quadros na nossa cabeça. Vemos a cama, o inseto gigante sobre ela, deitado de barriga para cima; ele tem a cor marrom e pequenas perninhas que se mexem freneticamente. Na literatura, o autor descreve imagens, porém, quando cada pessoa vê a cena nos seus pensamentos, essas figuras formadas provavelmente serão diferentes no entendimento de cada um. Já que estamos falando de uma descrição subjetiva.

Então, ao transferir um texto escrito para a linguagem cinematográfica – o que chamamos de tradução intersemiótica -, há uma grande diferença entre as formas de comunicar. Em um livro, o autor pode descrever detalhadamente o que se passa nos pensamentos do personagem, por exemplo. Já no cinema, há diversas formas de passar essa informação, o adaptador terá que escolher o método que preferir para isso e precisará também encontrar alternativas para diversos impasses que podem surgir entre uma linguagem e outra. O que em um caso é descrito, no outro deve ser mostrado.

Em função da subjetividade, as adaptações podem ser bastante criticadas, porque cada pessoa pode ter uma interpretação diferente da obra. Além disso, normalmente os diretores não têm a pretensão de reproduzir o texto escrito no cinema, mas de recriar a obra escrita, retirando trechos, alterando outros, modificando a caracterização de personagens, etc. Nem tudo o que o autor escreveu originalmente terá o mesmo efeito em um novo ambiente, o cinematográfico.

Independentemente de ser um longa ou um curta-metragem, há as mesmas implicações quando se adapta uma obra literária. A diferença óbvia é a duração dos filmes. É mais comum haver curtas-metragens adaptados de contos, que são textos bem mais curtos do que romances. Entretanto, nada impede que um romance de trezentas páginas seja adaptado para um curta-metragem, basta que se faça um recorte criativo.

Há diversos clássicos da literatura que já foram adaptados para longas-metragens, como “Romeu e Julieta”, livro de William Shakespeare; “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde; “o Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë; entre outros. Há também curtas-metragens baseados em filmes, como “Famigerado” (1991), de Aluízio Salles Jr., adaptado do conto de João Guimarães Rosa; “A Estória da Figueira” (2006), de Júlia Zakia, que é uma adaptação da cantiga luso-brasileira homônima e “Uma Flor” (2009), de Érica Rocha e Gilson Júnior, do conto de Clarice Lispector.

Marcelo Macaue

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