Estilos de Época: Pré-Modernismo, Modernismo e Pós Modernismo.

Antes de mais nada, quero dizer que o Estilo de Época e a Crítica literária são meras ferramentas para melhor se estudar Literaturas.  Não devem ser tomados como elementos essenciais para a criação de um texto ou mesmo a leitura dele. Quando nos endurecemos pelo metodismo, perdemos a capacidade de criar e de construir opiniões próprias.

Acima, um poema processo de Neide Dias de Sá.

Sobre os Estilos de Época:

Por Mahyná Cristina Medeiros Cendon Barbosa, aluna de Letras/ Português e Literaturas, 6º período.

As Escolas Literárias, ou Estilos de Época são os períodos dentro da história com características próprias, do ponto de vista estético (formal) e do ponto de vista conteudístico (dos pensamentos e idéias, que transmitem os conceitos que caracterizam um período histórico.

Pré-Modernismo, Modernismo e Pós-Modernismo:

Os primeiros anos do século XX já exalavam uma atmosfera de tensão. A primeira Guerra mundial já havia eclodido, deixando as pessoas desesperançosas em relação ao futuro. Os avanços científicos e tecnológicos também eram fonte de destruição. Os valores herdados do século anterior entraram em total crise, logo se percebeu que precisavam ser revistos ou substituídos. A arte, como sempre, acompanhou e expressou a inquietação desses tempos. Havia uma necessidade de mudanças de paradigmas, sendo assim, as vanguardas artísticas, movimentos revolucionários, despontaram nesse momento. O que chamamos de Pré-Modernismo é uma convenção para designar um período longe de ser homogêneo. Na opinião de alguns estudiosos, pouco inovador, mas que preparou o terreno para a arte crítica e de denúncia do Modernismo.

O Brasil passava por profundas alterações, devido à expansão da cultura cafeeira, à industrialização e urbanização nascentes, à massa de imigrantes e outros fatores, como movimentos grevistas, revoltas e conflitos no Nordeste (Canudos, cangaço). Logo ficou evidente para os intelectuais brasileiros que o país era divido entre uma elite voltada para a Europa e uma massa popular que aos poucos começava a expressar seu descontentamento. No geral, a prosa desse período tratavam das mazelas de um país que se industrializava, mas ainda preservava muito do atraso rural. Os destaques desse período são Lima Barreto, Monteiro Lobato (prosista), Euclides da Cunha (que retratou a guerra de canudos) e Augusto dos Anjos (poeta). A base das literaturas Pré-Modernas e Modernas no Brasil foram os movimentos de vanguarda, surgidos na Europa e que influenciaram artistas de todos os cantos do mundo. Os principais foram:

Ÿ         Cubismo: Tinha como principal característica decompor a realidade para recompô-la livremente, mesclando diversos ângulos e conceitos numa única imagem. Seu principal representante foi Guillaurme Apollinaire.

Ÿ         Dadaísmo: O mais radical de todos os movimentos modernistas, propunha a aniquilação total dos valores estéticos já conhecidos para a criação de uma linguagem incoerente e absurda. Nas Artes Plásticas, um dos mais conhecidos dadaísta é Marcel Duschamp, que expôs um mictório como sua obra de arte em um salão no qual participou. O maio expoente e líder na poesia dadaísta foi o romeno Tristan Tzara.

Ÿ         Futurismo: Exaltava a vida moderna, a industrialização, as máquinas e a guerra. Foi muito associado ao fascismo. Seu principal representante foi Fillipo Tomazo Marinetti.

Ÿ         Surrealismo: Nascido na França, teve como fundador André Breton, propunha a liberação total do homem, de modo a concordar com a super-realidade que habita o subconsciente (daí o nome, que vem do francês sur-realité). Segundo os surrealistas, a poesia seria o instrumento perfeito para liberar o poder criativo do homem. Foi o movimento mais importante da vanguarda da era moderna e influenciou profundamente a literatura moderna.

Obra de Marcel Duschamp.

O modernismo em Portugal se iniciou por volta de 1915, articulando-se em torno da revista Orpheu, organizada por nomes como Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros. Insatisfeitos com os rumos da Literatura portuguesa, esses jovens se uniram e investiram contra o academicismo, o Parnasianismo e o Saudosismo. Orpheu pregava o rompimento com o passado e o “inconformismo e a deificação do ato poético”(Jorge Miguel). A intenção dos modernistas era derrubar as formas estabelecidas, sem ter programa definido e escandalizar (a revista não foi além do terceiro número). O Modernismo pode ser dividido nas seguintes fases:

Ÿ          1915: Baseada na revista Orpheu e nas idéias futuristas.

Ÿ         1927 a 1940: Baseada na revista Presença, propunha um resgate ou uma renovação da Orpheu.

Ÿ         1947 a 1974: Fase Surrealista.

Ÿ         1974 até os dias atuais: Fase contemporânea, marcada pelo fim do Salazarismo, com destaque para a prosa.

O chamado Modernismo Brasileiro foi o acontecimento mais revolucionário da história da arte e das Literaturas do país, destruindo todos os paradigmas que vigoravam até então. Fundindo a influência das vanguardas européias com um desejo de renovação e a observação aguda da realidade brasileira, o Modernismo causou grande escândalo, estabelecendo novos objetivos e parâmetros para a arte brasileira. A apresentação “oficial” das idéias modernistas foi a lendária Semana de Artes Modernas, que foi realizada em São Paulo em 1922, um evento repleto de críticas, vaias e ultrajes. Geralmente o Modernismo é dividido em três fases: a 1ª, de 22 a 30; 2ª, de 30 a 45; 3ª , de 45 até mais ou menos os anos 70. A primeira fase do Modernismo, conhecida como a mais radical, é o momento dos manifestos (Pau-Brasil, Nhenguaçu Verde-Amarelo, Regionalista e Antropofágico), das revistas contendo programas e propostas de arte e o país (Klaxon, A Revista Festa, Estética). Esta fase consistiu na divulgação do movimento e nas primeiras divisões internas do mesmo. A prosa caracteriza-se pelo uso de linguagem coloquial, brasileirismos, regionalismos, neologismos e pelos períodos curtos. Na poesia temos o uso intensivo de versos livres, valorização do prosaico, nacionalismo, irreverência e humor. Os principais nomes desse movimento são Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Alcantara Machado, Cassiano Ricardo, Menotti de Picchia, Sérgio Millet e Guilherme de Almeida.

Quadro Urutu de Tarsila do Amaral.

A segunda fase foi o amadurecimento das idéias escandalosas de 22. Ampliando os ideais e temas da primeira fase, além de incorporar temas religiosos ou místicos, teve ampla aceitação. Na poesia destacam-se Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. A prosa dessa fase, conhecida como regionalista é marcada pela retratação de  diversas regiões do país e seus problemas.

A terceira fase caracteriza-se pela multiplicidade de tendências na prosa, impossíveis de serem classificadas e por uma poesia que retoma o estilo formal. Uma tentativa de classificar a prosa seria:

Ÿ         Prosa Psicológica: Que procura analisar o ser humano em profundidade.Os principais autores seriam Clarisse Lispector,  Lygia Fagundes Telles, Carlos Heitor Cony e Olavo Pereira.

Ÿ         Prosa Urbana: Que retrata o homem e a sociedade das cidades grandes. O maior nome é Dalton Trevisan, autor de obras primas do conto brasileiro.

Ÿ         Uma nova Prosa Regionalista: Que renova essa temática e a linguagem da prosa. O maior expoente é João Guimarães Rosa, menos conhecidos mas também importantes são Mário Palmeio e Herberto Salles.

Na poesia, a autodenominada “Geração de 40” retomou as regras da versificação, sendo freqüentemente conhecida como “Neo-parnasiana”. Seu maior nome é João Cabral de Melo Neto.

Acima Poema Processo recentemente publicado por Moacy Cirne.

Raymundo de Lima, psicanalista e professor do departamento de Fundamentos da Educação da U.E.M., Escreveu para o site “Revista Espaço Acadêmico” escreve que o pós modernismo se iniciou na década de 30, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos E.U.A: “Perry Anderson, conhecido pelos seus estudos dos fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em “As Origens da Pós-Modernidade” (1999), conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, que imprimiu o termo pela primeira vez, embora descrevendo um refluxo conservador dentro do próprio modernismo.” O estilo Pós-Modernista ainda não é aceito por todos os estudiosos. Alguns acreditam que o Pós-Modernismo tenha se iniciado depois da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1945; para outros ainda estaríamos vivendo a 3ª fase do modernismo.

Caracteriza-se pela assimilação do caos, que ergue patamares de um novo esquema de ordem. A revista universitária Logos, produzida pela área de comunicação social da U.E.R.J., cita o filósofo Nietzsche para explicar melhor esse conceito da vida pós-moderna: “O Homem Moderno acabou por ter o estomago carregado de conhecimentos indigestos que, como diz o conto, se chocam e entrechocam em seu ventre. (…) Sem dúvida, o sentimento permanece fechado na interioridade como a serpente que, após engolir alguns coelhos, se espicha tranqüilamente ao sol, evitando se mexer além do necessário (…) Quem quer que venha a passar por isso não deseja senão uma coisa: Que uma tal cultura não morra de indigestão.”, “Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante”.

Caracteriza-se também pela globalização da cultura e absorção de novas mídias: Podemos ou conhecer a cultura de qualquer parte do globo, assim sendo, nossa própria cultura pode ser influenciada por outras. A Literatura nesse novo período toma a dinâmica do cinema, ou o cinema pode se aproveitar da estilística de alguns autores de obras Literárias.

Na Literatura brasileira, podemos perceber as diferenças entre o Modernismo nas década anteriores e após a década de 50. A transição do Modernismo para o Pós-Modernismo se evidencia nos novos estilos como Tropicalismo e Poesia Processo. A literatura Marginal é feita por jovens que querem uma maior liberdade de criação, de palavras e editorial, pois a maioria dos textos é publicada de forma artesanal em folhetos soltos ou em estilo cordel.

“Por sua própria natureza, a produção ‘marginal’ ou ‘independente’ é bastante volumosa e diversificada, ainda que alguns de seus autores já tenham, em 1987, obras publicadas pelas editoras convencionais”. ( PROENÇA  FILHO, Domício).

“Em sua origem, Pós-Modernismo significava a perda da historicidade e o fim da”grande narrativa” – o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado.” [RAYMUNDO DE LIMAPsicanalista, Professor do Departamento de Fundamentos da Educação (UEM) e doutorando na Faculdade de Educação (USP) para o site “Revista Espaço Acadêmico.]

Na literatura, os escritores que caracterizam esse estilo são: Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Moacy Cirne, Haroldo e Augusto de Campos, Hilda Hilst e os escritores já citados como da 3ª fase do Modernismo no Brasil: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Adélia Prado, Autran Dourado, Augusto e Haroldo de Campos, João Ubaldo Ribeiro, Mário Quintana.

“Depois de certas aberturas teóricas e práticas, nos últimos 12 anos, a poesia brasileira afirmou-se internacionalmente. Essas aberturas representaram uma posição radical e construtiva diante do impasse gerado pelo esgotamento do verso, do lógico-discursivo, do florilégico exótico. Formas, e não formas, foram levantadas sob o enfoque do estrutural para uma maior objetivação da realidade poética brasileira. (…) Durante 12 anos a preocupação maior dos vanguardistas, e aqui não incluímos como tal certas tendências diluidoras (a poesia práxis, Poe exemplo), foi a de formular em termos exatos a importância da estrutura na obra de arte, numa abordagem revolucionária do material manipulado. Foi uma preocupação necessária, sem dúvida , pois desencadeou os vários processos informacionais de hoje nos permitem, conscientemente, partir para uma poesia mais radical e revolucionária: a poesia de processo, que – sem desprezar a estrutura, claro – procura criar novas linguagens.”

                (Moacy Cirne, 1967).

 

Marcelo Macaue

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