Final Cut Pro X

por Adriano Oliveira

Parece paradoxal, mas o lançamento da nova versão do Final Cut Pro esta semana marca o fim da era Final Cut. A razão é simples, o Final Cut Pro X é um software completamente diferente e mesmo incompatível com versões anteriores do programa que se tornou sinônimo de edição de vídeo. Tentarei explicar a seguir porque isso não é de todo ruim.

Final Cut Pro X

Em um post anterior, eu questionava o quanto a Apple ainda estaria interessada no mercado de aplicativos profissionais de vídeo, pois o Final Cut Pro, mesmo sem perder seu status de mito, havia estagnado tecnologicamente e vinha tendo fatias do seu cativo mercado abocanhadas sem piedade pela concorrência. O maior pecado do FCP era ser ainda um aplicativo 32 bits na era da computação 64 bits. Traduzindo, o programa tinha limitações estruturais que restringiam seu acesso a grandes quantidades de memória, ao processador e ao processamento paralelo das placas gráficas atuais. Uma consequência era, por exemplo, a extrema dificuldade do FCP em lidar com vídeos em codecs ultracompactos como o H.264, a compactação de vídeo padrão presente na maioria das câmeras digitais e HDSLR hoje.

Para ser atualizado, o FCP precisava ser reescrito completamente, reprogramado de cima a baixo, de modo a se tornar um aplicativo realmente 64 bits, condição sine-qua-non da computação atual. Mas será que valeria a pena reconstruir tal-e-qual um programa cujo paradigma data da época em que câmeras com fitas mini-DV eram o suprassumo do mercado? Há alguns anos, ao atualizar o Premiere Pro, a resposta da Adobe foi “sim”. Em 2011, no que diz respeito ao FCP, a resposta da Apple foi “não”.

A Apple decidiu não apenas reescrever o programa, mas recriar o conceito de edição não linear de vídeo que ela mesmo ajudou a consolidar. A nova abordagem é muito elegante e mais intuitiva. O modo de lidar com mídia, muito mais inteligente. O potencial 64 bits parece plenamente utilizado, com render acontecendo em segundo plano. Mas tudo isso ao preço da incompatibilidade com as versões anteriores.

O novo programa não se baseia mais na “metáfora” das trilhas (tracks) de áudio e vídeo, mas no novo conceito de storyline. Para um usuário médio parece não haver muita diferença, mas para os usuários profissionais são universos distintos. Independentemente de ser uma abordagem muito interessante, os efeitos colaterais da mudança de paradigma são tremendos: nada de exportar ou importar EDLs ou XMLs, nada de edição multicam!

Parafraseando o final do famoso livro de Umberto Eco, do que era Final Cut Pro restou-nos apenas o nome.

Nesta versão X, a nova filosofia é tão radical que impede intercâmbio de projetos com versões anteriores do próprio FCP, sem falar em programas de outras empresas, como After Effects, o ProTools ou o DaVinci Resolve. O novo FCPX, que muitos prefeririam chamar de iMovie PRO, está simplesmente fora de qualquer workflow profissional de vídeo. Mesmo que surjam nos próximos meses gambiarras ou correções que façam o serviço de meio-de-campo, a nova abordagem da Apple parece demandar que todo o mercado de vídeo profissional siga seu novo paradigma, o que dificilmente acontecerá.

A Apple deixou na mão toda uma geração que cresceu com o Final Cut. Para estes, o Final Cut Pro 7 é simplesmente o final da linha. A empresa da maçã desistiu de brigar pelos usuários profissionais no curto-prazo, optando por formar o novo mercado de edição profissional de vídeo da próxima década. A quem trabalha com o Final Cut hoje e precisa de recursos avançados, só restou como possibilidade de atualização nos próximos dois anos o Adobe Premiere Pro e o Avid Media Composer. Por que 2 anos? Porque este é o tempo que levará para o novo FCPX incorporar o que lhe falta e, talvez, começar a se tornar uma referência confiável no mercado.

O novo software simplesmente não é para usuários avançados ou específicos, mas para a imensa massa de usuários que eventualmente precisam de recursos avançados, mas não têm tempo ou habilidade de aprender muitos programas distintos. A Apple deve ter se perguntado, quantos usuários realmente usam o Color, o Soundtrack, o Logic…? Pouquíssimos. O FCPX não se integra a workflows profissionais, pois pretender oferecer ele mesmo um workflow simplificado, onde catalogação de mídia, edição, tratamento de imagem e áudio acontecem no mesmo lugar.

O Final Cut Pro X é uma aposta arriscada da Apple para uma nova geração de videomakers que já nasceu sob o paradigma do vídeo em cartões, e não em fitas — o FCPX é um editor de vídeo para a geração HDSLR. Este novo vídeomaker é um faz tudo, uma “banda de um homem só”: precisa de tudo que a tecnologia pode lhe oferecer, mas não tem como saber tudo que é preciso saber para se especializar nas diversas áreas da pós-produção.

A aposta da Apple é interessante, mas incerta, pois põe fim a um produto consolidado e coloca no seu lugar algo que ainda é simplesmente um protótipo, como aqueles carros-conceito que aparecem em feiras automobilísticas, apontando como o futuro deveria ser. O maior trunfo do novo programa hoje, além da marca “Final Cut”, é o preço: US$ 300! Mesmo incompleto, não há nada no mercado que seja tão competitivo. Com seus recentes lucros exorbitantes, a Apple pode certamente se dar ao luxo de bancar isso, matando uma galinha-dos-ovos-de-ouro que já andava meio cansada e pondo em seu lugar um pintinho que ainda precisará dizer a que veio.

Particularmente continuarei apostando no Adobe Premiere Pro CS 5.5, que além de tudo tem a vantagem inconteste de ser multiplataforma. Mas não sou de torcidas organizadas. Gosto de boas ideias e soluções ousadas.

O velho FCP está morto, longa vida ao FCPX!

Marcelo Macaue

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