Há muitos pontos a serem aprofundados sobre essa cena: a sonoplastia, os gestos e expressões propositalmente exagerados da atriz e, até mesmo, a vil cordialidade do Drácula
Nossas observações sobre a cor no cinema (o primeiro filme a ser comentado sob essa perspectiva foi o “Deserto Vermelho”, do Antonioni), escolhi uma cena de “Nosferatu – O Vampiro da Noite”, 1979, dirigido por Werner Herzog.
Sem dúvida nenhuma, esse longa é inspirado tanto no livro Drácula, de Bram Stroker, quanto sobretudo no filme de F. W. Murnau, “Nosferatu” (1922), marco do expressionismo alemão e um dos filmes mais cultuados ao longo dos tempos (a cena da sombra do vampiro subindo as escadas é uma das mais icônicas da história do cinema mundial, e ainda será tema dessa coluna).
Mas o Nosferatu de 22 é branco e preto, ou seja, de acordo com as convenções e possibilidades da época, por isso não nos interessa muito comentá-lo sob uma perspectiva cromática.
Já no filme de Herzog, como veremos no vídeo abaixo, cabe à cor azul o papel de insinuar a presença constante do Mal, aqui representado pela figura aterradora do vampiro.
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Há muitos pontos a serem aprofundados sobre essa cena: a sonoplastia, os gestos e expressões propositalmente exagerados da atriz (uma óbvia alusão ao modo expressionista antigo de se atuar), e até mesmo a vil cordialidade do Drácula, mas foquemos somente na cor da cena.
Nas cenas externas do filme, assim como na cena interna mostrada acima, também paira sempre essa dominante azul, que sugere um certo teor soturno e uma atmosfera de precaução, perigo e até desolação. O azul é facilmente misturável à neblina e à fumaça, e todos sabemos que a névoa é um dos grandes elementos de qualquer história ou ambiente de terror.
Será que a cor azul deste “Nosferatu” também é psicológica como as cores apagadas de “O Deserto Vermelho”? Ou aqui a cor cumpre um papel muito mais formal do que psicológico, no sentido de não expressar a visão de mundo de um personagem em especial (como é o caso da protagonista neurótica no filme de Antonioni), mas tão somente de inserir o espectador a um certo estado de espírito ou ambientação geral?
Essas são perguntas muito interessantes de serem discutidas, mas sabemos que a real proposta de Herzog era a de dar novas leituras ao expressionismo alemão dos anos 20 e, uma vez que naquela época a cor não podia ser um grande aliado na construção de uma emoção cinematográfica (ela cumpria esse papel muito bem na pintura, por outro lado), com este filme esse tipo de recurso cromático é atingido de forma muito eficaz.
Fonte: Site Cine Zen Cultural, saiba mais em (http://cinezencultural.com.br/site)