Depois de tanto penar, finalmente chega a hora de o cinema se enraizar na sociedade brasileira. A década de 30 acaba de surgir e, com ela, a esperança de melhorias na estrutura e na forma de se fazer cinema. Os musicais tomam as telas e começam um novo conceito de cinematografia no país, companhias cinematográficas como a Cinédia, criada em 1930; a Brasil Vita Filme, em 1934; e a Sonofilmes, em 1937; além, é claro, da debandada das cantoras de rádio para as telas do cinema nacional, aumentam a procura nas bilheterias. Cantoras como Carmen Miranda e Dircinha Batista, tornam-se estrelas dessas companhias. Produções como “Cidade Mulher” (1936), de Humberto Mauro, com trilha sonora de Noel Rosa, e “Banana da Terra” (1939), de João de Barro, ganham espaço nas salas de cinema espalhadas pelo Brasil, este último filme, por sinal, trazia em seu elenco Carmen Miranda, com o sucesso “O que é que a baiana tem?”, de Dorival Caymmi, canção passada de geração em geração até os dias atuais.
A grande sacada das produtoras da época é o fato de lançarem os filmes somente no final do ano, a explicação era simples, aproveitavam e divulgavam a marcha de carnaval do ano seguinte, e o resultado era quase sempre o mesmo: sucesso garantido. Fora dos cinemas, as músicas também eram veiculadas nas mais variadas rádios do país, fazendo com que a grande maioria das canções da época ficassem reconhecidas em todo o território nacional.
Eis que, na década de 40, surge no Brasil um dos gêneros cinematográficos que mais fizeram sucesso nessas terras, as chanchadas. Eram comédias populares que nasceram junto com a inauguração da Atlântida Cinematográfica, em 1941, criada por José Carlos Burle e Moacir Fenelon. A Atlântida tinha como principal missão desenvolver, em grande escala, o cinema do Brasil, de forma que os filmes fossem vistos e comentados em todo o país e não somente no que chamavam de ciclo regionalista, isto é, um filme criado em São Paulo só era visto na capital paulista, ou uma película do Rio de Janeiro fazia sucesso apenas na capital carioca. E conseguiram evitar isso com uma fórmula bem simples, fazer filmes que se aproximassem cada vez mais do cotidiano da população brasileira, com artistas conhecidos e venerados como Dercy Gonçalves, Ankito, Oscarito e Grande Otelo. Cada vez mais, o estilo caiu nas graças da plateia, a chanchada trazia para as telas os problemas do cotidiano com o deboche que já era corriqueiro nesses artistas.
Esse novo formato de cinema, nunca antes feito no Brasil, vira mania e, já na década de 50, o sucesso de bilheteria se mantém, com o filme “Carnaval no Fogo”, de 1949, do diretor Watson Macedo, que trazia em seu enredo tudo o que era necessário para atrair o público: mocinho, mocinha, vilão e o personagem engraçado que sempre cativava. Macedo ainda fez sucesso dirigindo “Aviso aos Navegantes” e “Aí vem o Barão”, no entanto, saiu da Atlântida e quem assumiu o seu lugar foi Carlos Manga. Cineasta que também dirigiu diversos filmes do gênero e se destacou em suas produções. De Manga, surgiram filmes como “Nem Sansão nem Dalila”, 1954, e “O Homem do Sputnik”, 1959, que se destacaram como os maiores filmes da época.
Não há também como falar da década de 50 sem citar o Jeca Tatu, o mais famoso caipira do país. Sujeito simples e do interior que só se mete em problemas na cidade grande, e tem um fanatismo impressionante pelo seu time do coração, o Corinthians. Sempre se dava bem nas tramas, afinal de contas, era bem astuto e, apesar de ser do interior e acharem que ele era ingênuo, Jeca Tatu sempre dava um jeitinho brasileiro, e alcançava seus objetivos, filmes como “Sai da Frente”, em 1952, e “Jeca Tatu”, 1959, são os que mais atraíram público para Mazzaropi nesta época.