
Uma das maiores características do curta-metragem está na independência de fugir do padrão de exibição de duas horas – média tanto do circuito comercial do cinema atual, quanto da “zona de conforto” do humano.
Essa histórica estrutura de tempo a que o roteiro cinematográfico pertence hoje, teve origem em Los Angeles, EUA.
O filme “O Nascimento de uma Nação” (The Birth of a Nation, D.W. Griffith, 1915) é considerado o primeiro longa-metragem a ser exibido ao público e foi assistido por 100 milhões de pessoas SÓ nos Estados Unidos. Considerando esse número de público versus duas inéditas horas de exibição, seus realizadores chegaram a conclusões importantíssimas.
SE naquele período (2horas), foi possível prender coletivamente a atenção das pessoas sem senta e levanta, entra e sai e disse que disse, “O Nascimento de uma Nação” caberia na história do cinema como um divisor de águas…
Assim, “semquererquerendo”, o filme de Griffth ditou e imprimiu características ao cinema que, adaptadas aos shows, teatro e eventos em geral, são cartilha até hoje.
Um invisível acordo entre as partes: 2 horas! É o que qualquer produção tem com o seu espectador para driblar formigas no traseiro, cochilos, barrigas roncando e manter bexigas sob controle. Mais do que isso, tem que ser ou bom demais da conta no encantamento, ou muito bem resolvido para não se sentir abandonado.
Enfim, essa longa falação sobre o longa, é pra tentar entender o que acontece com o público e os curtas.
Todos admitem que há um certo estranhamento? Ok!
Então vamos adiante perguntando:
Quem se distanciou primeiro? O filme do público, ou o espectador do tipo de filme?
Plano 1: Os produtores de curta em sua vibe de falar muito com pouco, podem ter passado a acreditar que menos é mais em tudo, assim, não investem na conquista. Fica então na visão do público a “aura” do cineasta de curta-metragem. O povo entende que para ele, se importar com que seu público pensa, fala ou discorda é… perda de tempo.
Plano 2: O público diante da velocidade do curta, não tem o subterfúgio do “início-meio-fim”, das 2 horas (aquelas do acordo) em que ficam confortáveis em suas fraquezas como fome, xixi, sono…. No curto tempo do curta, o susto, o soco no estômago, o desejo, a revolta, a lágrima, a reflexão, tudo pode vir – ou não, mas sempre no timing do “é e já foi”.
Muitos gostam disso, é claro.
Mas em geral a massa se sente mais subjugada do que já é. E estúpida, incapaz, frustrada, cobaia até e sobretudo perdida… Sofre com a ausência da leitura clássica de estrutura de filmes – coisa que o curta nem pretende.
Nessa sensação de “pense o que quiser”, quem experimenta o abandono é o público. E tal qual o risco que os filmes de mais de duas horas correm – Quem gosta de ser abandonado?
Antes de responder… Corta. Vamos aos fatos.
Se o estranhamento existiu ou existe, o movimento já há tempos é de aproximação. E isso pode ser visto nos bairros, nas praças, no METRÔ…
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