
Recém-encerrado, o Festival de Curtas de Oberhausen serviu mais uma vez como espaço de reflexão sobre o cinema. Considerado um dos fóruns mais importantes para os curtas-metragens do mundo, o festival levanta algumas questões em torno do formato ao qual se dedica. Paira sobretudo a pergunta a respeito da relevância do curta e sobre sua persistência em existir, já que, apesar dos esforços dos donos de salas de cinema, de distribuidores e de outras instituições, há quem acredite que eles desapareceram da paisagem cinematográfica.
O tradicional Festival de Oberhausen deixa claro, porém, que pelo menos no meio cinematográfico alemão o curta-metragem sobrevive e está mais presente do que nunca. Apesar da tão aclamada transformação das mídias, das mudanças de comportamento no que diz respeito às formas de lazer, da internet e da revolução digital, o formato do curta dá provas de resistência.

Lars Henrik Gass (foto), diretor do Festival desde 1997, está ciente disso tudo. Ele modificou a mostra no decorrer dos últimos anos, tornando-a aberta para novas formas e transformando-a em um espaço onde o discurso sobre o cinema se mantém vivo. E isso tudo em uma cidade como Oberhausen, cuja tristeza da paisagem urbana chega a chocar quem vem de fora.
Gass dedicou ainda ao tema o livrinho Film und Kunst nach dem Kino (O filme e a arte depois do cinema), editado pela Philo Fine Arts – uma espécie de guia filosófico-cultural sobre o gênero e um breviário conceitual do festival, cujas reflexões vão bem além do cotidiano da mostra.
Segundo Gass em entrevista à DW, os festivais passaram a exercer hoje uma função totalmente diferente no meio cinematográfico. Antigamente, eles assumiam principalmente a tarefa de exibir filmes, que depois seriam mostrados no cinema. Hoje, são mais uma espécie de “estação final” para os filmes, aponta Gass.
Ou seja, é comum que muitos dos filmes exibidos em um festival nunca cheguem à programação regular de um cinema. “Os festivais acabaram assumindo o papel imprevisto, do ponto de vista histórico, de aproveitamento de filmes que nunca teriam uma perspectiva comercial ou que a teriam, mas somente de maneira muito limitada”, completa o diretor do Festival de Oberhausen.
E como a produção cinematográfica cresceu como um todo, aumentou também o número de festivais no mundo. Gass relata que quando assumiu a direção de Oberhausen, em 1997, recebia inscrições de 2700 filmes. Hoje, são mais de 6 mil. Uma evolução respeitável, acredita. Gass não compreende, neste contexto, reclamações acerca de um suposto “excesso de festivais”, uma vez, que, segundo ele, há um público interessado e uma demanda cultural suficiente.
