Mixagem de áudio em cinema e home theater – Parte 2

Evolução dos formatos

Os melhores métodos de apresentação sonora em filmes foram conseguidos com o uso de múltiplos canais. E o primeiro desses formatos foi o realizado pelos estúdios Disney, com o nome de Fantasound. Ele consistia de três canais na tela, dois laterais e um canal surround. É importante assinalar que uma boa parte da mixagem do filme Fantasia, para o qual este formato foi desenvolvido, era feita no momento da projeção. Talvez por isso, e possivelmente por motivos econômicos, o Fantasound teve vida curta nos cinemas.

Note o leitor que um dos objetivos iniciais do Fantasound era fazer o som viajar no espaço, o que era conseguido com uma técnica chamada de “panning“. Ela se refere ao “panorama” obtido pelo deslocamento lateral, e pode tanto ser usada por imagem como pelo som. No caso deste último, o deslocamento é conseguido alterando a mixagem, mudando o som de um canal para outro próximo, sucessivamente, até criar a ilusão auditiva de movimento.

Walt Disney chegou a fazer do segmento contendo “O vôo da abelha” (peça de Nikolai Rimsky-Korsakov) um projeto para usar o panning, mas ele nunca chegou à versão final do filme.

A idéia do som multicanal teria morrido com o projeto de Disney, não fosse a necessidade do cinema em lutar contra a perda de freqüentadores nos cinemas por culpa do aumento de audiência da televisão.

Na etapa seguinte, coube a Hazard E. Reeves, co-desenvolvedor do Cinerama e fundador da Reeves Soundcraft Corporation, o estabelecimento de um formato moderno, para aplicação nas telas de Cinerama. Já no final da década de 1940, a fita magnética (legado alemão do pós-guerra) estava em franco uso pelos estúdios.

Reeves desenvolveu um sistema de som magnético em 35 mm, que rodava em paralelo com os três projetores usados para as telas Cinerama. Embora o sistema previsse de 5 até 9 canais, o formato usado foi de 5 canais na tela e um surround mono. Este formato foi literalmente transposto para o Cinerama em 70 mm e para o Todd-AO, desenvolvido nos anos seguintes.

 

Porém, no início da década de 1950, um novo sistema, contendo bandas magnéticas no filme, se tornou prevalente, para as apresentações do CinemaScope (4 canais em filme 35 mm) e de todos os filmes em 70 mm (6 canais).

O som multicanal em banda magnética entrou em um recesso intermitente, até que os laboratórios Dolby introduzissem o formato Dolby Stereo ©, que usava 2 canais dos filmes em banda ótica, para derivar 3 canais na tela e um surround mono. O formato também prevê que, ao contrário do CinemaScope, que usava panning nas mixagens de diálogo, este ficaria exclusivamente contido no canal central.

Os laboratórios Dolby ainda iriam fazer evoluir o Dolby Stereo para um formato avançado, chamado de Dolby Spectral Recording (Dolby SR©), e que na verdade uma extrapolação dos sistemas de redução de ruído (Dolby A) para o áudio analógico do cinema.

O Dolby SR iria rapidamente dar lugar ao Dolby Digital, contendo aplicações de mixagem completamente novas. Estas modificações diziam respeito, principalmente, à separação em definitivo do som surround em esquerdo e direito, e da introdução permanente do canal de efeitos de graves (LFE), nas cópias de 35 mm.

Na era digital, coube ao DTS a manutenção do padrão estabelecido pelo Dolby 5.1, e coube à Sony introduzir o SDDS (Sony Dynamic Digital Sound), dotado dos princípios do Todd-AO (5 canais na tela), porém dividindo os canais surround em dois e mantendo o LFE, num total de “8″ (7 + LFE) canais.

Note o leitor que o LFE não é exatamente um canal de áudio separado, embora seja muitas vezes considerado como tal. A introdução do LFE no bitstream da trilha sonora obedece a uma ?flag? de programação, cujo efeito é separar sons de baixa freqüência e de alta amplitude, para uma caixa acústica dedicada (subwoofer) posicionada na tela. Por não ser fisicamente um canal, o LFE é referido como “.1″: 5.1, 6.1 ou 7.1 (SDDS).

E finalmente, as mixagens digitais modernas complementaram o padrão 5.1 para 5.1 Estendido (Dolby EX e DTS-ES), com 6.1 canais, e, mais recentemente, 7.1, para aplicações domésticas (LPCM, Dolby TrueHD e DTS-HD).

Evolução dos planos da mixagem

O plano principal de qualquer mixagem, mesmo hoje em dia, é o plano frontal. Ele é usado para a colocação da orquestração (trilha sonora) e dos diálogos. A referência, no caso, é a extensão lateral da tela. E como o conceito de ?widescreen? mudou com o tempo (de 2.75:1 ou 2.35:1, chamado de widescreen anamórfico, para 1.85:1, chamado de widescreen plano), as técnicas de mixagem mudaram de acordo.

A referência da trilha sonora (música e temas orquestrais) é, tradicionalmente, o da gravação da orquestra sinfônica (violinos à esquerda, percussão no centro, e metais e violoncelos à direita).

Durante o início da propagação do filme 70 mm, e principalmente na era do CinemaScope, o diálogo era sistematicamente posicionado de acordo com a posição do personagem na tela (esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, e direita). Combinações destas posições foram usadas, para o panningdo diálogo na cena.

Até o fim dos anos de 1970, a grande maioria das mixagens usava o canal traseiro (surround) para ambiência, e não é incomum se ver exemplos de mixagem em filmes antigos onde o efeito sonoro (sons de tempestade, por exemplo) serem posicionados no plano frontal ao invés do traseiro.

O padrão Dolby Motion Picture (Dolby MP© ou Dolby Stereo ©), introduzido comercialmente a partir do lançamento do filme Star Wars (1977), muda radicalmente estes conceitos: o diálogo passa a ser posicionado quase que exclusivamente no canal central, irrespectivamente da apresentação ser em tela panorâmica (2.35:1, Panavision) ou em tela plana.

Além disso, o surround passa a ter participação mais incisiva na mixagem da trilha do filme. Inicialmente, como o surround é mono, a mixagem envolve sons difusos e sem localização no espaço.

Com a separação do surround em esquerdo e direito, a mixagem passa a posicionar sons no espaço ambiental (localização da platéia na sala de exibição). Porém, ao se fazer isso, promove-se uma perda significativa no som difuso ou no espaço entre os canais surround esquerdo e direito. A solução para isso foi adicionar um canal central traseiro, criando-se o sistema 6.1 (surround back mono) e, posteriormente, 7.1 (surround back esquerdo e direito), para maior eficiência no panning dos sons ambientais.

Marcelo Macaue

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