Cineasta de Porto Velho inventa e produz peças para seus filmes
Ele é roteirista, diretor e ator dos próprios filmes
O cenário pode ser qualquer ponto de Porto Velho, os coadjuvantes alguns amigos, mas o roteiro e a direção só podem ser dele, Jair Rangel de Souza. Ele é o criador e a própria criatura, o desengonçado Pistolino. Para quem ainda não conhece a história de Jair, de imediato poderá tachá-lo de louco, pelo menos. Talvez até tenha um pouco de loucura na história desse paranaense, afinal, é ele quem cria e constrói as geringonças, ou melhor, os equipamentos utilizados na filmagem de seus curtas-metragem.
“Quando era moleque brincava de cinema, fazia câmera de papelão e inventava histórias que meus amigos encenavam”, lembra. Mas Jair nunca pensou assim, de verdade, que um dia faria um filme e que – olha só!- ele seria exibido para tanta gente. E mais: os curtas de Jair Pistolino foram até premiados.
Os curtas já editados de Jair são: Na maior pindaíba, de 2004 – premiado no FestCine Amazônia, O Mala, de 2006, e o Curioso matuto, de 2009. O primeiro filme de Jair é o ‘Viajante em presepada’, que foi gravado entre 1998 e 2003.
Mazzaropi e Charles Chaplin
“Nem sempre os amigos do meu pai podiam ajudá-lo na gravação. Aí um dia eu falei: Pai me ensina a filmar, que o senhor não vai depender de mais ninguém”, conta Jair Juliano, 20 anos, que desde os sete ajuda o pai com suas histórias. As primeiras tentativas foram desastrosas, até carão ele levava de Jair que era, segundo ele mesmo, muito exigente. “Agora estou mais tranquilo, não fico exigindo tanto”, garante o Pistolino diretor.
Pai e filho têm a mesma paixão: Mazzaropi e Charles Chaplin. “Não gosto dos filmes de comédia de hoje em dia”, diz Juliano. “Acho meio sem graça, sem criatividade”, avalia o câmera número um e único das produções pistolianas.
De inventos a histórias
No fundo da casa de Jair, no bairro Aponiã, Zona Norte de Porto Velho, um ‘puxadinho’ é dividido entre a lavanderia e a oficina de criação. É lá que Jair faz suas peças artesanais, especialmente as réplicas das locomotivas da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em poliéster.
Entre uma locomotiva e outra, Jair cria as peças cenográficas, como um mosquito mecânico, que serão utilizadas em seus filmes. Ele inventou também uma câmera robô, controlada remotamente.
A criatividade de Jair Pistolino deu vida ao míssil que corre atrás dele e faz o maior barulho em ‘O curioso matuto’. “Os vizinhos não gostaram muito quando eu estava fazendo testes com o míssil aqui em casa. Parecia que ia explodir tudo”, conta.
Jair também é o inventor das histórias que dirige e atua. Os storyboards são feitos por ele mesmo, com rabiscos de garatujas e uns desenhos que, às vezes, só ele entende.
Perguntado como vai fazer para que Pistolino continue com suas aventuras, cheias de obstáculos, a resposta foi fácil: “Eu invento.” E que ninguém duvide dele, o Mazzaropi da Amazônia.